Did you even know I was gone?
Well, honey, I’m home.
A casa é simples e meio antiga, com cara de casa de vó. Portão baixo, piso de caquinhos vermelhos, pintura descascando nas paredes e um jardim selvagem escondendo parcialmente a varanda. Não chama atenção e nem tenta se camuflar entre os prédios ao redor. O transeunte ocasional, caso a perceba, não nota nada particularmente agradável ou hostil nela. É só uma casa. Para ver mais que isso, é preciso tempo, vontade e disposição. Tudo que as pessoas que circulam por uma metrópole não têm.
Mas aqui, fora do tempo e do espaço, nesse universo suspenso chamado internet, quase toda casa está aberta para visitações. Ao dar uma chance a elas, você pode descobrir que algumas são maiores por dentro e contém universos inteiros em seus cômodos. Ou que seus habitantes têm coisas muito interessantes a dizer sobre temas que você nem imaginava.
Foi assim que eu vim parar aqui. Comecei a passar mais tempo do que devia explorando a vizinhança, conhecendo as casas alheias e seus mundos interiores, e quando dei por mim tinha meu próprio lugar infinitamente vazio e nenhuma ideia do que fazer com ele. Acabei me perdendo em tantas possibilidades.
Achei que a casa deveria ser temática, pois todas as que eu visitava tinham algum tipo de coerência. Entrei em crise, habitando minha casa vazia em silêncio, mobiliando aos poucos com pedaços antigos de mim mesma, só para criticar em seguida. Eu havia sido impulsiva e não sabia como lidar com isso. Não estava pronta e nem tinha condições de habitar a casa sozinha, muito menos numa vizinhança cheia de pessoas incríveis e suas casas geniais.
E assim seis meses se passaram. Meses esses em que a casa e tudo que ela prometeu foram deixados de lado. Nesse tempo, entre visitas regulares à vizinhança e o abandono completo da minha existência nela, resolvi aproveitar a impulsividade e experimentar (no mundo real) tudo que eu sempre achei legal, mas que não tinha coragem de fazer antes. Meu cabelo tirou férias do avermelhado natural e partiu em sua própria tour do arco-íris, do verde sereia ao roxo ametista e tudo que vier pelo caminho. Comecei a aprender a patinar, a cair e me levantar outra vez (e de novo, e de novo), a conviver com pessoas novas e a me sentir parte de um grupo outra vez.
Aos poucos, voltei a pensar em minha casa-castelo-refúgio-prisão e todas as suas possibilidades. Os inquilinos chamam, sussurrando histórias de seus quartos-mundos em obras, que aos poucos deixam de ser uma massa abstrata e ganham formas e cores, cheiros, razões para existirem. Antes que eu percebesse estar pronta para voltar, a casa começou a se construir sozinha: sem tema, estilo ou qualquer sinal de coerência, porque a casa também sou eu e eu sou uma multidão. Sou todas que já fui, todas que ainda serei e plenamente capaz de povoar universos com ideias e pensamentos, se não tiver medo de ser impulsiva e tentar.
Então seja bem vinde à minha casa. Ela é simples e tem cara de casa de vó, mas é totalmente assombrada. E agora não está mais abandonada. <3
Ao infinito e além
Uma listinha de coisas legais, dentro do tema de hoje (ou não), que achei que valia dividir com você :)
Para ouvir: Honey I’m Home (McFly - Power to Play)
Minha “boyband” favorita lançou um disco novo, o primeiro em 15 anos capaz de superar as (minhas) expectativas e me deixar no modo fangirl outra vez. Tá uma delicinha de ouvir: meio anos 80, vários riffs de guitarra, músicas perfeitas pra cantar berrando num show. Todo dia escolho uma música nova como favorita, sempre com aquela sensação de voltar para casa depois de um tempo fora. <3
Para ler: Gideon the ninth - Tamsyn Muir
É fantasia? É. Ficção científica? Sim. Terror? Também! Um pouco de mistério? Com toda certeza. Espere um pouco de tudo ao ler a “Saga do túmulo trancafiado“, inclusive uma história um tanto caótica cheia de necromancia espacial. Foi uma ótima aula de percepção de vocabulário e narração como parte do estilo de personagem (em 3a pessoa). A caracterização é impecável, a protagonista insuportavelmente estilosa (amo) e tem um grande planeta-casa assombrada para explorar.
Nesse link da Tor é possível ler gratuitamente (em inglês). Em português, o romance saiu pela Alta Novel como Gideon, a Nona.
Para assistir: Hotel del Luna
Uma das minhas séries coreanas favoritas: tem fantasmas, um mercado de negociação de vinganças, reencarnações e dramas de vidas passadas, mais vinganças e um pouquinho de romance. Além de tudo é protagonizada pela IU (sempre maravilhosa, dona do meu coração todinho como Jang Man-wol) e tem um hotel maior por dentro um tanto peculiar. Essa série me apresentou ao conceito de “tiros de remorso“ como forma de vingança e mudou minha vida.
Está disponível no Rakuten Viki (grátis) e na Netflix.
Obrigada pela leitura! <3
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Adorei a recomendação de k-drama, espera só eu terminar o que estou assistindo que vou dar uma olhada! E Gideon, the Ninth é um que eu consegui pegar o livro inteiro de graça assinando a newsletter da Tor - agora só falta ler kkkkk